quarta-feira, 8 de abril de 2009

vOz/cAntO/fOrmAçÃO

Sonhei esta noite com um prof de canto de faca em punho a destruir as laringes dos alunos, deve ser algo recalcado. Eu sei o que é.
Portugal pauta-se neste momento com má gente e gente má a leccionar canto/voz (não só mas também). Primeiro neste país pensa-se que Lisboa é que é. Enganam-se, gente incompetente há em todo o lado mas há sítios onde estas se aglomeram. Se fizermos uma pequena análise de senso comum, constatamos que o norte "produz" vozes em maior abundância que o resto do país.
Neste momento há conhecimento científico produzido que é do desconhecimento de alguns, muitos, docentes de voz/canto. Algum desse conhecimento já tem décadas. Um exemplo flagrante tem a ver com o papel do diafgrama no canto, está mais que provado e visto e revisto que o diafgrama tem importância no aparatus inspiratório e não influência em nada, repito em NADA no processo expiratório/fonação. Pois ele há gente que continua a falar disso, porquê??? (nem respondo). Richard Miller um dos grandes teóricos da voz das últimas décadas e um dos fundadores da não existente escola americana, já escreveu isso há imenso tempo e voltou a escrevê-lo em várias das suas fantásticas publicações. Não falo só de gente no nível secundário (conservatórios e afins) falo mesmo de nível superior. Como é possível estar gente dessa a leccionar numa instituição pública paga pelos contribuintes deste país. Só mesmo em Portugal.
Fico pasmado quando vem o director da Antena2 falar que tem colaboradores na RTP/RDP que tem frequência do Conservatório Nacional. Mas que pouca vergonha é esta?!? E os alunos formados na Universidade Nova e na Escola Superior de Música? Lisboa como já o referi continua a viver a pensar que é a Metrópole, mas estão enganados. Há gente formada às custas de todos nós contribuintes e com grande validade profissional e científica que é posta de lado em detrimento de outras mal formadas, em todos os sentidos. Lá porque são sustentadas por Obra que não se conhece e por um bando de gente com validade muito duvidosa que pensa que manda nisto tudo, não pode de forma alguma perpetuar o seu eixo de malvadez.
É preciso arregaçar as mangas pegar na lixívia e na vassoura e fazer um limpeza geral, doa a quem doer. Há gente a ficar farta desta farsa de merda.
Pessoal toca a contestar tudo e todos, até obtermos respostas cabais e satisfatórias.
Voltando ao canto, há gente com provas demonstradas que são incompetentes para as funções que exercem que continuam a leccionar impunemente neste país. Pergunto-me até quando?

3 comentários:

Ricardo disse...

A questão da EMCN não passa somente por aí e é transversal a todos os Conservatórios. Até aos anos 70, o ensino superior da Música era ministrado nestes estabelecimentos de Ensino por professores cuja formação tinha passado também por lá e era muitas vezes baseada naquilo a que eu gosto de chamar "técnica das nuvens cor de rosa" e que consiste em ensinar (no caso específico do canto) recorrendo a um discurso do tipo "pensa em nuvens naquela nota... pinta a nota de vermelho" e que de técnico não tem nada. Ora este sistema perpetua um género de tradição pedagógica baseada não numa abordagem técnico-científica do ensino do Canto, mas sim numa afinidade natural de alguns alunos para conseguir reproduzir aquilo que o professor faz através da mera compreensão auditiva. Os que conseguiam eram os grandes talentos, os desgraçados que não tinham uma voz tão fácil eram os coitadinhos que nunca haviam de ir a lado nenhum. Este género de Ensino perpetuou-se através da sucessão professor-aluno preferido.

Quando alguém se lembrou de criar as Escolas Superiores de Música e tirar dos Conservatórios a possibilidade de dar Licenciaturas e integrá-los no Departamento do Ensino Secundário (e a avaliar pela qualidade de alguns docentes destas instituições, eu propunha que se colocassem no Departamento do Ensino Pré-Primário, mas isso já é outra história), houve uma revolta geral dos professores dos COnservatórios que tinham, de repente sido despromovidos a professores do Ensino Secundário. No entanto, a ideologia de "Música=Conservatório" manteve-se. Ainda hoje quando digo às pessoas que estudo Música, a pergunta é sempre "ah, no Conservatório?" ao que respondo que não... numa Universidade "ah não sabia que as Universidades também tinham Licenciaturas em Música".

A descentralização do Ensino Superior da Música não tinha uma má intenção por detrás... Muitas ideias políticas dos nossos governantes através dos tempos até nem são más, o problema é que os portugueses têm sérios problemas em passar das ideias à prática... Anyhoo, esta descentralização teve a intenção de "cientifizar" o Ensino Superior da Música e contra isso nada. Foi uma medida necessária e extremamente útil. O problema foi a sua realização prática, porque o que passou a acontecer é que as pessoas que estavam nos Conservatórios metiam-se a tirar um Mestrado qualquer em qualquer coisa e de repente estavam a dar aulas numa instituição do Ensino Superior: a falta de formação continuava a mesma e os incompetentes perpetuam a sua presença em instituições de ensino através da bela da cunha e afins.

Eu acho que a deslocalização dos Cursos de Lic em Música não tinha necessariamente que ocorrer. As estruturas dos Conservatórios podiam ter sido mantidas e deveria ter sido criada legislação relativamente a quem pode dar nessas instiuições cursos superiores e que definisse os conteúdos curriculares dos cursos. Mas o que ocorreu foi simplesmente a passagem dos incompetentes de um sítio para o outro. Claro que quem está por dentro do meio se apercebe das coisas, mas enquanto continuarmos a ter governantes que acham que sabem tudo sobre tudo, a coisa não vai lá. Acho que num governo é imperativo que se cultive uma ideologia de "A César o que é de César", ou seja, vamos criar Departamentos de Estado chefiados por pessoas com formação na área que comandam: que formação é que uma Socióloga tem para dizer o que é bom ou não para o Ensino da Música? Isto é transversal a todos os departamentos de estado.

Toda a gente fala na merda da crise e na porra da recessão económica, mas na verdade o grande problema do nosso país é uma crise de organização política que se estende desde o 25 de Abril. Eu abomino as ditaduras, mas a verdade é que o nosso governo democrático tem sido absolutamente caótico desde essa altura... Não há organização, não há estruturação, não há nada! Há uma sucessão de políticos relacionados de alguma forma com os anteriores e que pouco ou nada trazem de novo.
Já na altura das conquistas Romanas os Romanos diziam dos Lusitanos "Aqueles selvagens nem se governam nem se deixam governar".

Cada vez mais me convenço que a solução para Portugal passa por Espanha... Perda de identidade?? que treta! Que identidade? Tudo aquilo que é tido como identidade portuguesa foi criado pelo Departamento de Propaganda do Estado Novo que muito eficazmente convenceu as pessoas daquilo que era genuinamente português. Ora se o EN teve a necessidade de fazer isso é porque também não tinham muito bem a certeza daquilo que é português ou não.

Ainda falta cumprir-se Portugal... Resta saber se alguma vez se cumprirá.

Luis disse...

É bom ouvir (ler) quem tenha uma opinião, uma ideia e a assuma e defenda.
Se houvesse mais gente assim talvez muita coisa mudasse e evoluísse.

Cumps

Ricardo disse...

Oh Luís, (antes de mais, prazer em conhecer-te), eu acho que outro dos grandes problemas é que as pessoas abusam um bocadinho desta história da liberdade de expressão. É claro que é um direito fundamental aos seres humanos, mas se as pessoas o usassem mais para dizer algo de útil quando abrem a boca, em vez de dizer disparates, era bem melhor...