sábado, 25 de outubro de 2008

cOnsIdErAçÕEs

Começo pelo fim, as minhas incursões recentes pelo mundo da lírica nacional e londrina.

Ontem estive no Coliseu a assistir à produção do Teatro da Trindade da ópera «O Elixir do Amor» em português, a ópera foi composta por Gaetano Donizetti e estreada em Maio de 1832.
A produção de ontem, que começou digressão pelo Porto depois de residência em Lisboa, conta com uma encenação, HORRÍVEL, de Maria Emília Correia.
Do elenco não vou falar, pois esteve bem dadas as circunstâncias, tirando o facto de o papel de Belcore estar a ser cantado por um tenor que pensa que é barítono. A direcção musical cumpriu mas pecou pelo facto de não ter permitido cedendos no canto, principalmente nas árias e nas cadências. Faltou-lhe a característica principal deste tipo de repertório, da ópera italiana do séc. XIX de resto, cumpriu e bem. Terá sido o maestro a não permitir cadenciar para cima? se assim foi temos em vista um novo Mutti. O coro esteve muito bem, super correcto musicalmente e com uma fusão assinalável.

Agora o pior,  a encenação e tudo que ela envolve.
Foi tão má que pela primeira vez na vida "buei" uma encenação (não que eu tenha alguma vez "buado" algum espectáculo. Deu vontade à 'boa' maneira italiana de a chamar "putana da Granja". Um espectáculo deplorável como nunca tina visto num palco de um teatro. Tento encontrar adjectivos para o descrever mas o único que sai não é adjectivo é um substantivo feminino, merda. Uma falta de gosto atroz, actores/cantores mal dirigidos.
O público do Porto tem por hábito acolher bem o teatro lírico, não fosse uma tradição já secular, no intervalo do espectáculo era evidente o descontentamento e alguma perplexidade pelo espectáculo deplorável que estava a assistir. Houve gente que não voltou à sala após o intervalo. Eu só fiquei por consideração aos cantores, alguns colegas de universidade, pois se foram os únicos que naquela amalgama de mau gosto mesmo assim conseguiram impor-se.
Daquilo que foi percebendo a cena passar-se-ia à beira-mar, algures numas dunas. Explique-me sra. encenadora o cortador de relva numa das últimas cenas da ópera. Explique-me por favor a hélice de uma torre eólica no final. Explique-me a brejeirisse nas piadas de cariz sexual. Explique-me o friso com tubos de ensaio e outra parafernália laboratorial numa das cenas. Explique-me os detergentes, agentes corrosivos, que eram ingeridos pelos actores como se de substâncias bebíveis se tratassem; ter em atenção as crianças que assistiam e o facto das embalagens serem de produtos conhecidos e facilmente encontrados em qualquer casa.
A lista é de alguma forma interminável...
Pergunto-me como é que com tanto dinheiro, o luxo dos cenários e seus adereços era evidente, se constroi um espectáculo tão deplorável. Só mesmo em Portugal este tipo de espectáculos é possível.
Devo salientar que o director do Teatro Nacional à pouco exonerado do cargo, pelo que sei por incompetência, era a 9ª vez que via o espectáculo e cada vez mais adorava o espectáculo. Estamos entregues aos bichos.
Quer parecer-me que quem gere as artes neste país é gente completamente incluída nesta cultura vigente em Portugal do mau gosto, incompetência e desprovidos de cérebro.

Infelizmente isto parece não acabar, a sra. visada vai encenar no Teatro de São Carlos uma das óperas de repertório de referencia Don Giovanni de Mozart. Sem mais comentários.

1 comentário:

Ricardo disse...
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